Letícia Miranda (1996) vive e trabalha no Distrito Federal. É poeta, artista visual e professora. Formada em Letras Português pela Universidade de Brasília, especialista em Fotografia pela Faculdade Unyleya e mestranda em Artes Visuais pela Universidade de Brasília. É autora de A suspensão de Tomie Ohtake, publicado pelo selo Auroras, da editora Penalux.
Sem título
As formas
emendadas nas cores
se deslocam
permanece o gesto
de uma mulher
centenária
Oceano
Instalada a hipnose
tento descobrir como você entrou nos meus olhos
por isso volto à escrita do desenho, à marca das camadas
ao azul e ao preto e aos furos que não consegui fazer
só encontro o rastro do lápis gorduroso
como num susto tiro as travas, vejo a volúpia da grafia
e teu nome ressurge
A suspensão do amarelo ovo
Meus olhos demoram nas formas, nas linhas, nas fissuras
o tatear impossível
não devora as texturas, nem se dissolve na aspereza
pela rachadura atravesso a superfície
há uma dobra que sustenta a deformidade
os pulmões gastos
do tamanho de uma noz
estão cheios, secos e mortos
Você acabou de ler uma seleção de poemas de A suspensão de Tomie Ohtake (Editora Penalux, 2022), livro de Letícia Miranda. Gostou dos poemas? Adquira-o completo clicando aqui!
Mais sobre a obra
A suspensão de Tomie Ohtake traz, desde o título, o sentido ambíguo que tanto permite ler a suspensão como objeto da artista e, portanto, deste livro, como também, por outro lado, a artista enquanto suspensa, flutuante, espectral, assim como sua obra. Nesse duplo sentido, a suspensão, matéria-prima de Ohtake, é também a matéria-prima da invenção de Letícia Miranda, que não só escreve sobre Ohtake e para Ohtake, mas escreve, inventa, ficcionaliza uma nova Ohtake.
Danielle Magalhães
Foto de Luísa Machado.